domingo, 3 de junho de 2012

Um passeio pelas religiões do planeta: Hinduísmo

O deus Shiva (O Destruidor)
Oi gente! Namastê!*

Confesso que escrever sobre o Hinduísmo foi um desafio muito grande, embora durante a minha vida sempre atraiu a minha atenção por sua beleza, diversidade e profundidade inegáveis! Peço, desde já, desculpas (principalmente aos meus amigos yogues) pelas minhas limitações na exposição de tão importante tradição religiosa, que merece todo o respeito e elevada consideração.

A Religião Hinduísta, uma das mais antigas da Terra, se torna desafiadora quando nos deparamos com a sua estrutura e origem que divergem bastante do que conhecemos sobre as demais crenças.
O primeiro ponto interessante é que o Hinduísmo não se originou partindo de uma só pessoa, como constatamos comumente em outras religiões como o Cristianismo e o Budismo, nas quais se baseiam nos ensinamentos de Jesus e Buda, respectivamente.

Podemos dizer que esse sistema de crenças surgiu da tradição antiga de alguns povos que habitavam a Índia há, aproximadamente, 3.000 anos A.C. (ou mais).

Portanto, encontramos no Hinduísmo um amálgama de conceitos e valores que foram agregados de acordo com a contribuição das várias tribos ou povos. Esse é o ponto principal que torna essa religião tão fascinante, a flexibilidade de absorver demais doutrinas graças ao princípio da Himsa (não violência) que está presente desde a formação dos povos indianos.

Vou dividir o Hinduísmo (bem resumidamente) em 2 fases: Os Dravidianos e os Vedas; e o Hinduísmo Bramânico.

Os Dravidianos e o Hinduísmo Védico:

A civilização dravídica viveu no continente indiano entre os anos 2.500 e 1.500 A.C., embora sua origem se tenha dado em tempos mais remotos de difícil datação.
A sociedade dravídica era matriarcal e pacífica, tendo como o pilar de sua fé a total integração com a Natureza. Eram shivaístas (ou xivaístas em português), ou seja, devotos de Shiva, o deus da Transformação, ou da Destruição, ou ainda, da Renovação.

Cultuavam um Deus Supremo, chamado Dyaus - o Deus-Céu - que, unido com a Mãe-Terra, era o provedor e o fertilizador. Através dele foi gerado Surya (o Sol), Chandra (a Lua) e Heos (a Aurora).
(Percebo uma certa semelhança com a descrição de Hesíodo sobre a origem dos deuses encontrada na Teogonia grega.)
Após a invasão Ariana (1.500 A.C.), o aspecto da guerra foi incorporado aos atributos de Dyaus que passou a se chamar Indra.

Há muito o que se falar sobre o notável povo Dravidiano. Ainda pretendo separar um blog especial só sobre o assunto, uma vez que a sua cultura e a língua, se difundiram até o mediterrâneo, sendo encontradas semelhanças, por exemplo, na estrutura linguística do povo basco.

Os Vedas são as escrituras das mais antigas da história da humanidade. Reúnem 4 textos: Rigveda (texto mais antigo), Yajurveda, Samahveda e Atarvaveda. Tais textos contém mantras** que norteiam toda a ritualística, as orações e encantamentos, todos dedicados às divindades (deuses e deusas). A palavra Veda, do sânscrito, significa conhecimento.
Uma observação bem intrigante é que, alguns estudiosos do hinduísmo, afirmam que o conhecimento védico data de antiquíssimos tempos, bem antes do surgimento do sânscrito***, o que implica que foi passado por uma tradição oral entre os povos antigos, milênios antes do registro escrito.

O Hinduísmo Bramânico (ou Vedanta)

No Hinduísmo Bramânico, encontramos o Trimurti (a Trindade hinduísta), onde Brahma personifica o Criador, Vishnu, o Preservador e Shiva, o Destruidor. Quando Shiva destrói o universo, Brahma aparece do umbigo de Vishnu, montado numa flor de lótus para manifestar a Criação. Vishnu se encontra sempre em sono profundo, mergulhado no Oceano Primordial.

O Vedanta, do sânscrito, Veda (conhecimento) e Anta (dentro, essência, centro), pode ser traduzido como "a essência do conhecimento" ou "a meta de todo o conhecimento", é a tradição espiritualista hindu, explicada nos Upanixades. Os Upanixades são comentários aos textos védicos. Não se sabe ao certo quem os escreveu, mas a tradução é curiosa onde Upa significa "perto", ni "em baixo", xad "sentar". Ou seja, era a reunião de Mestres e discípulos, todos sentados no chão, onde eram passados os conhecimentos espirituais.

Um pouco mais sobre os Upanixades: "Os Upanixades organizaram mais precisamente a doutrina védica de auto-realização, yoga, e meditação, karma e reencarnação, que eram veladas no simbolismo da antiga religião de mistérios."
(fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hindu%C3%ADsmo#Upanixades)

Esse estudo é bastante profundo e não tenho nível de conhecimento, nem a pretensão de abordá-lo nesse pequeno blog, mas vale muito a pena, pra quem quiser se aprofundar, buscar pesquisar sobre os maravilhosos ensinamentos contidos nos Vedas e nos Upanixades.

Não são todas as escolas hinduístas que seguem os Vedas como, por exemplo, o Jainismo.

Portanto, continuando nossa jornada, encontramos a partir daí até os dias de hoje, uma complexidade maior nos conceitos sobre o surgimento do Universo e da Alma.
Podemos esquematizar alguns conceitos principais do pensamento hinduísta da seguinte forma:

Braman (diferente de Brahma do trimurti): a Alma Suprema, o Princípio Divino não manifestado, a Neutralidade;

Atman: o Ser, A Consciência. O Espírito individual, reflexo de Braman. O Verdadeiro Eu. É a essência divina manifestada nos seres consciêntes;

Karma: do sânscrito "ação", a lei de "causa e efeito". Pode ser uma ação física, mental ou espiritual. Tudo implica numa resposta à toda e qualquer atitude que um ser exerce no Universo;

Maya: o "véu da ilusão". É o mundo aparente apreendido pelos limitados sentidos humanos;

Reencarnação: é o ciclo de morte e renascimento que todos os seres passam para vivenciar os efeitos de seus karmas. Vamos pegar a definição contida no Bagavadguitá (texto religioso, parte do épico Mahabarata):

                   "Assim como uma pessoa veste roupas novas e joga fora as roupas antigas e rasgadas, uma alma encarnada entra em novos corpos materiais, abandonando os antigos. (B.G. 2:22)"

Samsara: é a roda do renascimento, onde estão presas as consciências que ainda não despertaram dos prazeres ilusórios e efêmeros. Só é possível se libertar desse ciclo através do Moksha (libertação, realização eterna, paz mental perfeita, desprendimento dos desejos mundanos).

Rapidamente, sobre Krishna:

É o Grande Avatar Hinduísta. Bhagavan Sri Krishna é aquele que veio para cumprir as escrituras e expulsar os demônios do mundo. É entendido como uma encarnação de Vishnu.

Sua história é descrita em alguas escrituras como o Mahabharata, o Harivamsa, o Bhagavata Purana e o Vishnu Purana.

Não gostaria de me aprofundar muito sobre Krishna nesse texto, pois quero tratar dos Avatares de cada religião individualmente; separando do aspecto devocional. Por gentileza, aguardem as próximas publicações.

Conclusão:

Nem todos os pensamentos hinduístas são adeptos ao aspecto místico e devocional. Encontramos o Samkhya que é um sistema que foi desenvolvido juntamente com o yoga, que se define como ateu.

Aliás, não podemos deixar de mencionar o Yoga dentro de tudo isso. Afinal, Yoga (União), é o conjunto de disciplinas que tem como objetivo liberar o ser humano do maya, através do alcance do Samadhi (Iluminação). Possui diversas linhas e formas de práticas, desde o aspecto mais devocional (bakti), passando pelo uso do conhecimento (jnana), até as práticas físicas (hatha-yoga) através das posturas (ásanas).

Dariam mais uns 100 blogs pra falar somente sobre o Yoga. Vou deixar esse assunto para os estudiosos e gurus (professores). Não podemos esquecer que estamos "passeando pelas religiões do planeta", hein gente?

Agora, peço licença à todos para, dentro da minha limitada interpretação, tentar descortinar um pouco de toda essa mitologia e seus simbolismos.

Não estaríamos todos nós imersos nesse vasto Universo, tanto no macro quanto no microcosmos, ora em equilíbrio (Vishnu), ora no caos (Shiva), manifestando o poder da criação (Brahma) à todo instante?

Se o mundo material é perecível e transitório, será que o conceito de Maya (ilusão) não estaria corretíssimo?

É pra se pensar...

Agradeço à todos pela paciência de ter lido a publicação de hoje, pedindo desculpas mais uma vez por não abranger todo o contexto hinduísta, o que necessitaria, certamente a dedicação e o estudo de toda uma existência.

Tenham todos uma semana de Alegria e Felicidade!!!
Abraços.

*Namastê: palavra em sânscrito que geralmente significa: "O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você."
**Mantra: do sânscrito Man (mente) e Tra (alavanca), é uma sílaba ou poema religioso normalmente em sânscrito. Os mantras originaram do hinduísmo, porém são utilizados também no budismo e jainismo. 
Para algumas escolas, especificamente as de fundamentação técnica, mantra pode ser qualquer som, sílaba, palavra, frase ou texto, que detenha um poder específico. Porém, é fundamental que pertença a uma língua morta, na qual os significados e as pronúncias não sofram a erosão dos regionalismos por causa da evolução da língua. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mantra)
***Sânscrito: é uma língua extinta da Índia, com uso litúrgico no Hinduísmo, Budismo, e Jainismo. É uma das línguas mais antigas da família Indo-Européia. Sua posição nas culturas do sul e Sudeste Asiático é comparável ao latim e ao grego antigo na Europa, influenciando diversas línguas da região. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A2nscrito)

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